domingo, 4 de março de 2012

Minha décima segunda semana na Australia: Saltando de Pára-Quedas



(Brisbane – Queensland)

Diário de bordo 12

Uma das coisas mais interessantes sobre o fato de viajar sozinho, pra um outro país, sem conhecer ninguém e não ter idéia alguma sobre o que vai acontecer daqui pra frente é o quanto você aprende, principalmente sobre sí mesmo. E achei tão verdadeiro uma coisa que minha amiga Clarice Gobbi escreveu, que tenho passado mais tempo pensando sobre isso. No Brasil temos a mania de julgar e zoar pessoas que começam a falar algumas palavras em ingles porque esqueceram, mesmo que momentaneamente, palavras em português porque passaram uma temporada fora do país. E já perdi a conta de quantas vezes eu já esqueci palavras em português aqui pra poder me expressar ou até mesmo tentar achar vocabulário para traduzir e falar em ingles depois. O fato de julgar os mais variados tipos de trabalhos que existe e chamá-los de sub-empregos, também não faz muito sentido aqui. Inclusive pois são esses que sustentam o sonho da maioria dos brasileiros e demais nacionalidades de fora aqui na Australia. Mas não é só isso. É a forma como você vê as pessoas. Todos estão longe das suas famílias e amigos. Tudo é novo. Então, nos tormamos pessoas mais à flor da pele, e mais seletivas também. Se você gosta de alguém, você gosta muito, se não gosta, não gosta mesmo. Não tem meio termo. Você se percebe mais, pois na sua zona de conforto existe muitas coisas que atrapalham a sua percepção. Mas aqui, não é nada confortável pois o tempo todo temos que pensar para nos comunicar, temos desafios diários. O tempo todo tem algo diferente acontecendo. Fora de casa, você realmente começa e saber quem você é.
Bom, num domingo chuvoso o que me restou foi fazer dever, ver filmes, ter boas companhias e esperar a semana começar.
Após a aula e mais uma bateria de testes, como o dia estava muito feio e ainda continuava a chover, a única opção era, de novo, homework e cama. Na verdade, a parte da cama foi um pouco difícil pois eu estava um pouco ansioso pelo fato de que na terça-feira eu teria o teste no restaurante que eu consegui uma chance.
Na terça-feira, após a aula, voltei pra casa, descansei, estudei, tomei um banho e me preparei pra trabalhar. Cheguei uns 20 minutos mais cedo pra saber como as coisas funcionavam. Na verdade, é bem tranquilo. Como mencionei antes, aqui todo mundo tem uma função específica. E a minha era o que chamam de “glasser”, o cara que fica encarregado dos copos. Tira, põe pra lavar, tira da máquina, seca, dá uma polida e guarda. É isso. Mas como é só isso, acabo fazendo mais outras coisas, como reposição de bebidas e organização do bar para dar um suporte para a bartender. Beleza! Tranquilo e moleza. Acredito que em dias mais cheios deve cansar muito. No final, conversei com a gerente, que por sinal é gatíssima, e ela me perguntou sobre disponibilidade e que gostou do teste, mas que seria pra começar na próxima semana e que me ligaria. Bom, beleza! Pelo menos o primeiro passo estava dado. Só esperar a segunda pra mostrar a cara de novo e ser persistente.
À noite, quando voltei pra casa, decidimos fazer um jantar para todos os moradores. Só que o Ferdinando Manzo estava tão animado que saiu cozinhando sem ligar o exaustor. Daí a fumaça começou a se espalhar por todo o living room. Só, que aqui na Australia, toda residencia tem um alarme de incêndio com detector de fumaça instalado dentro de casa. Caso os bombeiros sejam acionados e se eles chegarem à sua casa sem fogo, tem uma multinha básica, apenas a bagatela de $1,000.00. Isso mesmo: MILZINHO!!! Quando o alarme começou a tocar, saímos desesperados, eu, Tota Dias e Jorik van Leengoed para pegar um dos ventiladores e o vacuum pra poder tirar o ar de perto do detector. Hahaha!!! Foi uma das cenas mais engraçadas. Mas…ainda bem que nada mais aconteceu e não tivemos que pagar multa alguma. Ufa!!!
Uma coisa que passei a achar super normal por aqui foi ver morcegos voando e passando por cima da sua cabeça como se fossem passarinhos, inclusive durante o dia. Acho que no dia que eu voltar a ver passarinhos normalmente eu vou ficar com medo. Mas isso é só um comentário.
Quarta, após a aula, eu fui praticamente obrigado a participar do Music Club. Adivinha? “Ow if I Catch you” de novo. A versão em ingles de “Ah Se eu Te Pego”. Acabou rolando um “La Bamba” também. Também rolou “Wonderwall”, mas não foi gravado. Na verdade só foi gravado o que realmente deu pra sair com mais facilidade. Hahaha!!! Mas também rolou muita porcaria e tentativas falhas no meio do caminho. Foi divertido e o pessoal continua dizendo que eu tenho uma boa voz. E o que mais me surpreendeu é que até meu irmão, Ricardo Meireles, deu um breve elogio sobre isso. Hahaha!!!
Mais tarde, resolvemos fazer outro jantar, a final de contas, o Ferdinando estava de partida. Muito chato quando um amigo seu cujo você se acostuma com sua presença e carisma dentro de casa resolve ir embora. Foi apenas uma coisa mais tranquila e só para os moradores novamente. Além do novo morador, o Roberto Tibe .
Na quinta-feira, Ferdinando resolveu fazer um churrasco no Roma Park pra poder se despedir melhor de nós aqui de casa e dos amigos do trabalho. O que mais cantamos no churrasco foi “Moça Bonita”, que ele tanto adora cantar em italiano. Hahaha!! Uma coisa legal que aconteceu foi que a dona do restaurante que ele trabalhava veio me perguntar se eu havia começado a trabalhar no restaurante espanhol e se eu tinha realmente conseguido a vaga. Disse ainda que se eu não conseguir lá, pra eu voltar no restaurante dela que ela me arranja um novo trabalho. Opa!!! As coisas estão começando a fluir ao meu favor. Maravilha!
Como eu não tinha que trabalhar esta semana, sexta-feira eu acordei determinado a marcar o meu salto de para-quedas. Como no sábado a galera da Browns estava indo, resolvi aproveitar a carona do ônibus e ir já de uma vez. Liguei pra garota do Brasil que trabalha com o pessoal do SkyDiving e disse que eu estava indo. Ela disse que não tinha vaga. Conversei com o pessoal da Browns. Me arrumaram vaga. Resolvo ir pra casa e descansar, recebi uma mensagem dizendo que eu não tinha mais vaga. Mando mensagem pra Erin falando que eu não iria mais pois não tinha vaga. Ela resolve as coisas pra mim e diz pra eu aparecer no horário combinado com o pessoal da Browns em frente ao Roma Station. Como eu estava ansioso, o coração a mil, só fui dormir à 1 da matina. Pra acordar às 5h30. Acordo, vou pro ponto de encontro, bem perto de casa, e descubro que não tenho mais vaga. A gente tenta resolver, mas aí, minha heroína Erin Bonassi resolve pegar o carro dela e ir dirigindo só pra eu poder ir junto. Aeee!!!!!
Depois de duas horas de viagem e os dois quase sem falar muito, pois não conseguíamos parar de pensar no salto e no frio que estava dando na barriga, chegamos ao local. E assim, não tem muito o que pensar não. A gente já chega, faz as escolhas de fotos e videos, assina as paradas e já vai pra colocar a roupa pro salto. Acho que fazem isso pra não dar tempo pra ninguém pensar. Ou salta ou salta. Bonitinho foi ver um casal de velhinhos, com aproximadamente uns 80 anos, pra saltar na minha frente. Muito legal!
Bom, antes de saltar eu estava pensando: não é só pelo fato de ter ganhado o prêmio, não é só pela emoção, mas pelo fato de estar aqui. Eu tinha que faze-lo.
Não conseguia disfarçar o nervosismo. Eu estava rindo de nervoso. Gravei um video antes de saltar e só então eu vi que estava nervoso. A sensação de esperar, o frio na barriga, ver algumas núvens no céu, as pessoas que também estavam apreensivas…tudo conspira para seu nervosismo. Será que salto? Será que vou fraquejar? Ai ai ai…

Não deu tempo, de novo, pra pensar. De repente vi umas pessoas aterrisando com seus instrutores e cinco minutos depois o avião já estava no lugar. A gente recebe as últimas instruções e em seguida chega a moça que seria minha instrutora. Putz!!! O frio na barriga aumenta. Ela me entrevista, pra quebrar o gelo, que mais parecia um iceberg dentro de mim, e já me diz pra caminhar pro avião. Sou o primeiro a entrar no avião. Só vejo a Erin esperando na porta, com uma cara de apavorada. Antes de o avião decolar é aterrador, pois você começa a pensar em várias coisas e em nada ao mesmo tempo. Abaixei a cabeça, falei com Ele, agradeci e pedi proteção. Só conseguia pensar em uma coisa de novo: “Te vejo de novo lá em baixo”. Avião levantou vôo e pronto. Relaxei. Comecei a curtir a paisagem, conversei com o piloto, com minha instrutora….tranquilo. Quando a gente passou o nível das núvens, estava maravilhoso o céu! Não tinha mais nada pra falar. To dentro! De repente, o avião diminue a velocidade e pára de subir, era o primeiro salto, 9.000 pés de altura, aproximadamente 3 mil metros. Lá se vai Erin gritando feito louca. Tadinha, estava apavorada. Em seguida o casal de velhinhos. E subimos mais, agora para o mais alto ponto, 14.000 pés, em torno de 5 mil metros. Começa a sair. E eu vou vendo todo mundo. O frio aumenta, na minha barriga e pela altitude. Chegou minha vez. Quando cheguei na porta e só vi núvens, foi de mais. Que imagem linda! Dá uma ansiedade danada, uma vontade de pular que você não tem idéia. Quando saí, vi tudo rodando, de ponta a cabeça. Uma sensação de felicidade, medo, pavor….uma sensação boa na cabeça e uma explosão no coração. ADRENALINA!!! Em uma dose tão cavalar que não sei nem explicar. AAAAAHHHHHH!!!!! Só dá vontade de gritar!!!! Bom de mais!!! Um frio danado ao passar pelas núvens. E a pressão no ouvido então, nem se fala. Quando o para-quedas abre é a hora em que seu corpo relaxa um pouco, mas mesmo assim eu só gritava, assobiava bem alto e gritava mais. Mas quando cheguei no chão, só queria correr, gritar, pular, dar cambalhotas…tudo. Era muita adrenalina. Quero de novo!!! Tava muito pilhado.
Mas, no caminho de volta, quando paramos em Currimbin, na praia, o corpo começa a relaxar mais e você se sente mais cansado. Comecei a achar que tudo era sonho. Lembrei do papo da Juliana De Paula, quando ela saltou, que a gente deve ligar pra alguém pra saber se esta vivo ou não. Liguei pra ela. Claro! Daí, resolvi, ao chegar em Brisbane, para no churrasco na casa da Caroline Valente, pegar uma piscina, curtir com as meninas e os meninos, porque eu ainda tinha um pouco de adrenalina no corpo. Mas, no final, só queria saber de ir pra casa e descansar. Pois o dia foi muito emocionante!

See you! 

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