(Brisbane
– Queensland)
Diário de bordo 12
Uma das coisas mais interessantes sobre o fato de
viajar sozinho, pra um outro país, sem conhecer ninguém e não ter idéia alguma
sobre o que vai acontecer daqui pra frente é o quanto você aprende,
principalmente sobre sí mesmo. E achei tão verdadeiro uma coisa que minha amiga
Clarice Gobbi escreveu, que tenho passado mais tempo pensando sobre isso. No
Brasil temos a mania de julgar e zoar pessoas que começam a falar algumas
palavras em ingles porque esqueceram, mesmo que momentaneamente, palavras em
português porque passaram uma temporada fora do país. E já perdi a conta de
quantas vezes eu já esqueci palavras em português aqui pra poder me expressar
ou até mesmo tentar achar vocabulário para traduzir e falar em ingles depois. O
fato de julgar os mais variados tipos de trabalhos que existe e chamá-los de
sub-empregos, também não faz muito sentido aqui. Inclusive pois são esses que
sustentam o sonho da maioria dos brasileiros e demais nacionalidades de fora
aqui na Australia. Mas não é só isso. É a forma como você vê as pessoas. Todos
estão longe das suas famílias e amigos. Tudo é novo. Então, nos tormamos
pessoas mais à flor da pele, e mais seletivas também. Se você gosta de alguém,
você gosta muito, se não gosta, não gosta mesmo. Não tem meio termo. Você se
percebe mais, pois na sua zona de conforto existe muitas coisas que atrapalham
a sua percepção. Mas aqui, não é nada confortável pois o tempo todo temos que
pensar para nos comunicar, temos desafios diários. O tempo todo tem algo
diferente acontecendo. Fora de casa, você realmente começa e saber quem você é.
Bom, num domingo chuvoso o que me restou foi fazer
dever, ver filmes, ter boas companhias e esperar a semana começar.
Após a aula e mais uma bateria de testes, como o
dia estava muito feio e ainda continuava a chover, a única opção era, de novo,
homework e cama. Na verdade, a parte da cama foi um pouco difícil pois eu
estava um pouco ansioso pelo fato de que na terça-feira eu teria o teste no
restaurante que eu consegui uma chance.
Na terça-feira, após a aula, voltei pra casa,
descansei, estudei, tomei um banho e me preparei pra trabalhar. Cheguei uns 20
minutos mais cedo pra saber como as coisas funcionavam. Na verdade, é bem
tranquilo. Como mencionei antes, aqui todo mundo tem uma função específica. E a
minha era o que chamam de “glasser”, o cara que fica encarregado dos copos.
Tira, põe pra lavar, tira da máquina, seca, dá uma polida e guarda. É isso. Mas
como é só isso, acabo fazendo mais outras coisas, como reposição de bebidas e
organização do bar para dar um suporte para a bartender. Beleza! Tranquilo e
moleza. Acredito que em dias mais cheios deve cansar muito. No final, conversei
com a gerente, que por sinal é gatíssima, e ela me perguntou sobre disponibilidade
e que gostou do teste, mas que seria pra começar na próxima semana e que me
ligaria. Bom, beleza! Pelo menos o primeiro passo estava dado. Só esperar a
segunda pra mostrar a cara de novo e ser persistente.
À noite, quando voltei pra casa, decidimos fazer
um jantar para todos os moradores. Só que o Ferdinando Manzo estava tão animado
que saiu cozinhando sem ligar o exaustor. Daí a fumaça começou a se espalhar
por todo o living room. Só, que aqui na Australia, toda residencia tem um
alarme de incêndio com detector de fumaça instalado dentro de casa. Caso os
bombeiros sejam acionados e se eles chegarem à sua casa sem fogo, tem uma
multinha básica, apenas a bagatela de $1,000.00. Isso mesmo: MILZINHO!!! Quando
o alarme começou a tocar, saímos desesperados, eu, Tota Dias e Jorik van
Leengoed para pegar um dos ventiladores e o vacuum pra poder tirar o ar de
perto do detector. Hahaha!!! Foi uma das cenas mais engraçadas. Mas…ainda bem
que nada mais aconteceu e não tivemos que pagar multa alguma. Ufa!!!
Uma coisa que passei a achar super normal por aqui
foi ver morcegos voando e passando por cima da sua cabeça como se fossem
passarinhos, inclusive durante o dia. Acho que no dia que eu voltar a ver
passarinhos normalmente eu vou ficar com medo. Mas isso é só um comentário.
Quarta, após a aula, eu fui praticamente obrigado
a participar do Music Club. Adivinha? “Ow if I Catch you” de novo. A versão em
ingles de “Ah Se eu Te Pego”. Acabou rolando um “La Bamba” também. Também rolou
“Wonderwall”, mas não foi gravado. Na verdade só foi gravado o que realmente
deu pra sair com mais facilidade. Hahaha!!! Mas também rolou muita porcaria e
tentativas falhas no meio do caminho. Foi divertido e o pessoal continua
dizendo que eu tenho uma boa voz. E o que mais me surpreendeu é que até meu
irmão, Ricardo Meireles, deu um breve elogio sobre isso. Hahaha!!!
Mais tarde, resolvemos fazer outro jantar, a final
de contas, o Ferdinando estava de partida. Muito chato quando um amigo seu cujo
você se acostuma com sua presença e carisma dentro de casa resolve ir embora.
Foi apenas uma coisa mais tranquila e só para os moradores novamente. Além do
novo morador, o Roberto Tibe .
Na quinta-feira, Ferdinando resolveu fazer um
churrasco no Roma Park pra poder se despedir melhor de nós aqui de casa e dos
amigos do trabalho. O que mais cantamos no churrasco foi “Moça Bonita”, que ele
tanto adora cantar em italiano. Hahaha!! Uma coisa legal que aconteceu foi que
a dona do restaurante que ele trabalhava veio me perguntar se eu havia começado
a trabalhar no restaurante espanhol e se eu tinha realmente conseguido a vaga.
Disse ainda que se eu não conseguir lá, pra eu voltar no restaurante dela que
ela me arranja um novo trabalho. Opa!!! As coisas estão começando a fluir ao
meu favor. Maravilha!
Como eu não tinha que trabalhar esta semana,
sexta-feira eu acordei determinado a marcar o meu salto de para-quedas. Como no
sábado a galera da Browns estava indo, resolvi aproveitar a carona do ônibus e
ir já de uma vez. Liguei pra garota do Brasil que trabalha com o pessoal do
SkyDiving e disse que eu estava indo. Ela disse que não tinha vaga. Conversei
com o pessoal da Browns. Me arrumaram vaga. Resolvo ir pra casa e descansar,
recebi uma mensagem dizendo que eu não tinha mais vaga. Mando mensagem pra Erin
falando que eu não iria mais pois não tinha vaga. Ela resolve as coisas pra mim
e diz pra eu aparecer no horário combinado com o pessoal da Browns em frente ao
Roma Station. Como eu estava ansioso, o coração a mil, só fui dormir à 1 da
matina. Pra acordar às 5h30. Acordo, vou pro ponto de encontro, bem perto de
casa, e descubro que não tenho mais vaga. A gente tenta resolver, mas aí, minha
heroína Erin Bonassi resolve pegar o carro dela e ir dirigindo só pra eu poder
ir junto. Aeee!!!!!
Depois de duas horas de viagem e os dois quase sem
falar muito, pois não conseguíamos parar de pensar no salto e no frio que
estava dando na barriga, chegamos ao local. E assim, não tem muito o que pensar
não. A gente já chega, faz as escolhas de fotos e videos, assina as paradas e
já vai pra colocar a roupa pro salto. Acho que fazem isso pra não dar tempo pra
ninguém pensar. Ou salta ou salta. Bonitinho foi ver um casal de velhinhos, com
aproximadamente uns 80 anos, pra saltar na minha frente. Muito legal!
Bom, antes de saltar eu estava pensando: não é só
pelo fato de ter ganhado o prêmio, não é só pela emoção, mas pelo fato de estar
aqui. Eu tinha que faze-lo.
Não conseguia disfarçar o nervosismo. Eu estava
rindo de nervoso. Gravei um video antes de saltar e só então eu vi que estava
nervoso. A sensação de esperar, o frio na barriga, ver algumas núvens no céu,
as pessoas que também estavam apreensivas…tudo conspira para seu nervosismo.
Será que salto? Será que vou fraquejar? Ai ai ai…
See you!
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